Cuidados com saúde mental devem começar na primeira infância

Psicoterapeuta observa que questões como crises de ansiedade e depressão não escolhem idade, classe social ou crenças

Por Helen Mavichian*  

Janeiro é o mês de tirar os sonhos do papel e planejar os desafios do ano que se inicia. Possivelmente seja por essa mesma razão que tenha sido escolhido para direcionar os holofotes à importância de construir uma cultura de saúde mental em nossa sociedade. Afinal, para ter saúde, não basta se alimentar bem, praticar atividades físicas e cuidar do bem-estar físico. O conceito de saúde é muito mais amplo do que isso e questões como crises de ansiedade, depressão e transtornos psicológicos podem estar presentes em todas as etapas da vida, realidade social e gênero.

Uma variedade de aspectos do comportamento humano englobam desde como nos comportamos em sociedade até o bem-estar da nossa mente. Sabe aquele ditado clássico que diz que “mente sã, corpo são”? No meu ponto de vista, essa é uma excelente representação da importância da saúde mental, ainda mais após longos anos de pandemia.

É como se todos estivéssemos sendo colocados à prova todos os dias. Há pouco mais de uma década, quem fazia regularmente sessões de terapia, contava apenas para pessoas bem íntimas, como se fosse vergonhoso cuidar dos pensamentos, emoções e sentimentos que incomodam.

Hoje é uma pauta recorrente de conversas informais e as pessoas indicam especialistas entre si. As novas gerações conversam sobre o assunto com a maior naturalidade nos corredores das escolas e é comum que crianças e adolescentes peçam aos pais e responsáveis para fazer terapia.

Quem toma diariamente antidepressivos e ansiolíticos comenta como se estivesse falando de um remédio para uma “dor” qualquer, aquela que pegamos os remédios livremente na gôndola de uma farmácia. É como se tivéssemos naturalizado que ninguém está 100% bem mentalmente hoje em dia. Isso é bom porque é um contexto mais acolhedor, mas é uma realidade bem preocupante.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão, sendo a maior taxa da América Latina. No entanto, infelizmente, grande parte dos pacientes não têm acesso ao tratamento adequado e a programas de acolhimento, o que pode levar ao agravamento do quadro.

A OMS considera a saúde mental uma prioridade e defende que precisamos estar atentos aos sintomas de alerta, como alteração no sono, alimentação, disposição interna, relações sociais, atividades escolares e laborais e tantas outras sinalizações alteradas. Os motivos para ignorar os avisos da mente, e consequentes avisos do corpo, costumam ser a falta de conhecimento, vergonha de ter um transtorno mental ou de fazer terapia, medo da rejeição e das críticas alheias, receio da repressão da família ou atribuição do mal-estar mental a elementos externos.

Quando questões de saúde mental sérias, como depressão, não são acompanhadas por especialistas podem, por exemplo, desencadear fatores de risco sérios, entre eles, suicídio. Já a depressão e a ansiedade podem ser revertidas quando os sintomas são tratados todos os seus aspectos, tanto os neurológicos como os psicológicos. Isso porque os medicamentos ajudam no controle de partes químicas e genéticas, mas também é necessário dar atenção às questões emocionais, que compõem o quadro em questão.

Diante de tudo isso, fazer terapia se tornou mais fácil e acessível e, quem não tem disponibilidade de ir presencialmente às sessões, pode ser atendido online. É uma alternativa inclusive para crianças e adolescentes, pois a intensificação da vida digital trouxe oportunidades para a construção de técnicas apropriadas à psicoterapia online com crianças.

Durante sessões de terapia presenciais, atividades lúdicas são usadas para integrar partes dissociadas da natureza humana e, em atendimentos à distância, onde o brincar não é possível, o trabalho realizado pelo terapeuta precisa da participação da família para garantir que a brincadeira aconteça de forma simultânea de cada lado da tela.

Fica aqui o convite para que durante o mês Janeiro Branco você aproveite para refletir sobre a sua saúde mental e a das pessoas que você ama e convive. Olhe com atenção para os seus entes queridos e para você mesmo. A saúde mental requer cuidados diários, não pode ser deixada para depois. Não negligencie sentimentos. A vida acontece aqui e agora.

* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. 

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