Acidente interrompe ascensão brilhante da Chapecoense

Há três temporadas na elite do futebol brasileiro, o clube catarinense disputaria a primeira decisão internacional de sua história

Poucos times de futebol de pequena estrutura viveram uma ascensão tão rápida como a da Chapecoense nesta década. Em 2009, o clube ainda disputava a série D, última divisão do futebol nacional. Sete anos depois, a equipe estava prestes a disputar sua primeira final de uma competição internacional. O acidente que vitimou 19 de seus jogadores nesta terça-feira 29 frustou o momento mais brilhante da trajetória do clube.

Há três anos na série A e com um orçamento quase dez vezes menor ao do Palmeiras, campeão brasileiro de 2016, nada parecia abalar o esforço do time catarinense de se manter na elite do futebol brasileiro. Com a morte de grande parte da equipe, o principal adversário da Chape, como é carinhosamente chamada, será reerguer-se da tragédia.

O avião com 81 pessoas e que transportava a Chapecoense sofreu um acidente em uma região montanhosa nas proximidades de Medellín, no noroeste da Colômbia. De acordo com informações das autoridades colombianas, 75 pessoas morreram e há seis sobreviventes feridos.

Dos 22 jogadores da Chape que embarcaram no voo, apenas três sobreviveram, de acordo com o mais recente boletim da Aeronáutica Civil da Colômbia, equivalente da Anac no Brasil. Resistiram ao acidente o lateral-esquerdo Alan Ruschel, o goleiro reserva Jackson Follman e o zagueiro Neto.

A situação de Neto e Ruschel é grave. Segundo informações da TV Globo, Neto chegou com um trauma crânio-encefálico e passa por procedimentos de urgência. Já o lateral-esquerdo Alan Ruschel, transferido para uma clínica próxima do hospital, sofreu uma lesão que, segundo o diretor médico local, pode ter atingido a medula.

Inicialmente foi informado que o goleiro Danilo, herói da classificação contra o San Lorenzo na semifinal da Copa Sul-Americana, foi encontrado vivo após o acidente, mas em seguida a rádio Caracol, da Colômbia, afirmou que o atleta morreu no hospital.

Um dos principais responsáveis pela boa campanha do time, o técnico Caio Júnior também estava na aeronave. O treinador tinha passagens por grandes clubes brasileiros, entre eles Flamengo, Palmeiras, Botafogo e Grêmio. Recentemente, o treinador disse que se sentia no auge de sua carreira por ter chegado à final da Copa Sul-Americana. Jogadores como o experiente Cléber Santana, com passagens por diversos clubes grandes brasileiros, também não resistiram.

O primeiro jogo da decisão entre Atlético Nacional e Chapecoense foi suspenso pela Conmebol. A segunda partida decisiva da Copa do Brasil, entre Grêmio e Atlético Mineiro, foi adiado pela CBF para 7 de dezembro. A rodada final da Série A, prevista para domingo 4, foi remarcada para 11 de dezembro.

Adversário da Chapecoense na decisão internacional, o Atlético Nacional, da Colômbia, sugeriu à Conmebol que a Chapecoense ficasse com o título da Sul-Americana, segundo a TV Globo. A entidade máxima do futebol no continente pretende confirmar a presença da Chape na Copa Libertadores de 2017.

Gilberto Garcia, jogador do Atlético Nacional, reforçou o coro pelo título simbólico. “Nós queremos que declarem esta equipe como campeã. Conversamos entre nós. Não é uma decisão nossa, é do mundo do futebol.” Em nota, presidentes de clubes brasileiros solicitaram à CBF para a Chapecoense não ficar sujeita ao rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro pelas próximas três temporadas.

Do auge ao sofrimento

Fundado em 1973 na cidade de Chapecó, no interior de Santa Catarina, o clube estava na série D em 2009, quando conseguiu o acesso à divisão seguinte pela primeira vez. A partir de 2012, a trajetória do time foi meteórica: naquele ano, conquistou o acesso à série B e no ano seguinte, à primeira divisão do futebol brasileiro. Há três temporadas, o clube encontra-se na elite do futebol brasileiro. Brinca-se que, assim como Flamengo, São Paulo, Santos, Cruzeiro e Internacional, a Chapecoense é um dos times que jamais foi rebaixado da primeira divisão.

Além de garantir sua permanência na série A deste ano, o time derrotou fortes adversários até chegar à final da Copa Sul-Americana, tendo superado na semifinal o San Lorenzo, equipe argentina que conquistou a Libertadores em 2014.

Em entrevista à Fox Sports, o lateral Claudio Winck, que não foi relacionado para a decisão da Copa Sul-Americana, lamentou a tragédia. “Era o melhor momento. Estava todo mundo muito feliz, empolgado. O clima era fantástico antes dessa viagem.”

Plínio David Filho, presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, em entrevista ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, emocionou-se ao falar do grupo. “Nós vivíamos uma harmonia muito grande. Ontem de manhã, eu me despedindo, eles me diziam que iam em busca para tornar esse sonho realidade. Compartilhamos esse sonho, muito emocionado. E esse sonho acabou essa madrugada. ”

Com a morte de 19 atletas, o acidente aéreo é o que mais matou jogadores de futebol na história. Em 1949, 18 jogadores do Torino morreram em um acidente de avião, que retornava com a delegação de uma partida em Lisboa contra o Benfica. Em 1958, 23 integrantes da delegação do Manchester United morreram em um acidente de avião após uma partida da equipe inglesa contra o Estrela Vermelha, pelas quartas de final da Liga dos Campeões da Uefa. Oito jogadores do clube perderam suas vidas.

Em sua conta no twitter, o Torino afirmou que o acidente envolvendo a Chapecoense “é um destino que nos une indissociavelmente.”

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