“A Dor Que Transcende: Luto, Amor e a Ausência da Mamãe”

Por: Kátya Elpydio | 16/01/2025

A dor que eu sinto é um eco profundo do amor, um vazio que não pode ser preenchido, não importa o quanto eu tente. O luto, nesse sentido, é um caminho de silêncio e desespero. Ele começa com uma perda, mas não termina nela; ele se estende, se estica, e se infiltra em cada pedaço do meu ser. A perda de uma mãe é algo que transcende qualquer explicação, porque ela não é apenas a perda de uma pessoa, mas a perda do próprio conceito de lar, de abrigo, de quem nos deu a vida e nos acolheu com amor incondicional.

Desde novembro de 2018, decidi abandonar tudo para cuidar da minha mãe, e ao fazer isso, entreguei não apenas o meu tempo, mas meu coração, minha energia, minha alma. O processo foi doloroso, porque no início, a minha mãe não aceitava ajuda. Ela resistiu, e talvez fosse uma resistência pela necessidade de manter sua independência, um grito silencioso de quem ainda queria ser quem sempre foi, e eu, como filha, tive que aprender a ser mãe, a ser a cuidadora. A nossa relação, que antes era de uma mulher forte cuidando de sua filha, virou um cenário de troca de papéis. O que antes parecia natural agora parecia uma batalha incessante, entre o desejo de proteger e o medo de perder, entre o cuidado e a luta para manter a dignidade.

Eu vi a minha mãe ceder, de pouco em pouco, com uma entrega dolorosa, uma entrega que não aconteceu sem resistência, sem feridas abertas. E eu, no processo, também me vi mudada. A dor me  transformou, e os dias passaram velozmente, mas ao mesmo tempo, o caminho ficou cada vez mais estreito. As fases de caos e de esperança se alternaram, e, enquanto cuidava dela, eu também sentia que estava cuidando de partes de mim mesma, mas também me despedaçando junto a ela.

E quando a doença se intensificou, quando novos diagnósticos chegaram e as hospitalizações se tornaram mais frequentes, o peso foi ainda maior. O medo de perder o controle sobre o que estava acontecendo. E ainda assim, me permaneci firme, com o coração sangrando. Lutei, me reinventei, tentei, tentei e tentei mais uma vez, mesmo quando parecia que a esperança se esvaía como a areia entre os dedos.

Quando a sentença final chegou, em 17 de dezembro de 2024, a minha mãe partiu para a casa do Pai, me vi diante do abismo. O castelo que nós construímos com tanto amor e dor desmoronou, e eu afundei nesse abismo sem forças para me levantar. O vazio que tomou conta de meu peito é o reflexo de uma ausência que não pode ser explicada, nem preenchida. A dor de perder uma mãe é uma dor tão profunda que parece consumir a alma, e agora, o sentido da vida parece nebuloso, indefinido, e a espera pela ressurreição, pela cura, é o único alento, mesmo que esse alento pareça distante.

Não há palavras que possam aliviar a dor de perder a mãe, e não há jeito de esconder que o mundo parece irreconhecível agora. O tempo não traz respostas, e a solidão se transforma em uma companhia constante. A saudade é uma cicatriz que nunca cicatriza. Porém, sei muito bem que o amor que eu dei, o amor que eu senti e o amor que compartilhamos nunca desaparece. Ele se transforma, talvez, em uma memória que me fortalece, em uma energia invisível que ainda pulsa em mim. Minha mãe pode ter partido fisicamente, mas ela nunca deixará de fazer parte de mim, da minha história, de quem me tornei ao longo dessa jornada intensa.

Agora, é preciso dar um passo após o outro. Mesmo que os dias pareçam sem sentido, mesmo que a dor seja paralisante, continuo a caminhar. A ressurreição que eu espero é a força que tenho dentro de mim, é a lembrança do amor que transcende a morte, e é a capacidade de honrar minha mãe, continuando a viver, mesmo que seja de forma silenciosa, mesmo que seja com dor. O tempo, ainda que não cure a dor, pode me ensinar a carregar o peso da saudade, a transformar a dor em uma força que me faça seguir.

A dor de perder a minha mãe não desaparece, mas ela pode se tornar uma parte da minha história, um pedaço daquilo que eu sou, que fui, e que ainda serei. Mesmo que eu não veja agora, o tempo, com sua paciência infinita, trará formas de EU seguir em frente.

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