Raízes sertanejas no orgulho LGBTQIA+

Após cunhar e popularizar o termo Queernejo, Gabeu alça novos voos e abre as portas para que outros públicos sertanejos conheçam sua obra.

Gabeu é a prova de que a música transcende barreiras e quebra qualquer tipo de paradigma imposto pela sociedade. Se hoje a grande mídia canaliza o sertanejo para padrões estereotipados da população, o artista, natural de Franca (SP), vem com um trabalho conciso, consistente e de muita qualidade para causar uma celeuma e provar o contrário. Próximo e atuante na luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ o artista conta um pouco da sua história, da sua trajetória na música e aponta os próximos passos na estrada da música.

Dono de hits como Amor Rural e Sugar Daddy, Gabeu é ainda desconhecido para uma fatia da população, mas extremamente querido na comunidade LGBTQIA+. A relação do artista com a música começa muito cedo, vindo do berço. Filho do cantor Solimões (que faz dupla com Rionegro) o cantor recorda seu engatinhar no sertanejo. “Sempre fui muito ligado a música desde que me entendo por gente, pois a música, sobretudo a sertaneja, sempre esteve muito presente dentro de casa”, pontua.

Um dos precursores do movimento Queernejo – que consiste em uma label LGBTQIA+ que abraça a diversidade e engloba jovens que fazem as pazes com seu passado musical – Gabeu ganhou notoriedade na mídia logo quando concebeu Amor Rural. “Tudo aconteceu de forma mais rápida e intensa do que o planejado! Eu tinha estipulado uma meta de visualizações que deveria ser batida em 30 dias, mas, incrivelmente, ela foi atingida nas primeiras 24h. Fiquei extremamente feliz, apesar de assustado com a repercussão imediata”, recorda. Com o grande sucesso conseguido, portais como G1, o Terra, a UOL, deram destaque a ele. “Inclusive, fui entrevistado no Papo de Segunda, no GNT, um programa com o Fábio Porchat e o Emicida… Por isso, foi bastante intenso lidar a euforia, a felicidade, o medo e a insegurança, tudo ao mesmo tempo”, recorda.

Outros pontos na promissora e rica carreira de Gabeu devem ser relatados. O sertanejo já foi atração da Parada LGBTQIA+, da Praia Grande (SP), onde se apresentou em cima de um trio elétrico. Mas, ele pondera: “Foi um desafio e tanto, por se tratar de um evento onde o foco não é um show específico, nós artistas encontramos também pessoas que não foram ali pra nos assistir, então enquanto eu cantava eu via pessoas amando e cantando junto, pessoas de braços cruzados e revirando os olhos, pessoas se beijando, bebendo e nem prestando atenção, muitas reações”.

Mas engana-se quem pensa que a história de Gabeu conta apenas com o glamour dos louros colhidos por conta de seu trabalho. O garoto, hoje com 22 anos, é o que a indústria chama de “um operário da música”. Com uma equipe reduzida, ele está a frente da divulgação, marketing digital, distribuição e ainda encontra tempo para trabalhar em novas obras. “É realmente um caminho muito trabalho, mas tenho certeza que estou seguindo o fluxo correto. Estou fazendo as pessoas se conectarem comigo e com o meu trabalho. O melhor tipo de mensagem que eu recebo é de LGBTQIA+ do interior, onde o sertanejo é extremamente forte, dizendo que o sertanejo sempre fez parte da vida deles e que agora eles se sentem representados, que agora eles querem ouvir esse tipo de sertanejo, foram muitas mensagens desse tipo e toda elas me emocionam sempre. É muito louco pensar que durante muito tempo busquei essa referência e acabei me tornando a própria referência”, afirma.

E nem o ano obscuro de 2020 apagou o brilho e jogou água no chopp de Gabeu. O artista continua embalado nas redes sociais e tendo um engajamento orgânico digno de mega-stars do gênero. ‘Fiz minha primeira live, eu estava bem apreensivo, mas foi incrível e o público amou! Foi uma live de festa junina intitulada “Arraiá do Gabeu”, onde eu reuni algumas canções que tem a ver com esse clima junino

Ainda no segundo semestre, será divulgada a participação de Gabeu na música Pistoleiras, de Alice Marcone. A música ganhará um lyric totalmente calcado em arte gráfica e promete pontuar positivamente no digital. “No dia 18 de Outubro, realizaremos o Fivela Fest online, primeiro festival de Queernejo do Brasil. O festival organizado por mim, Alice Marcone e Gali Galó vai ser transmitido no canal do YouTube do Fivela, totalmente pré-gravado. Além de shows e sets de DJ, teremos também mesas de discussões sobre temas variados que estão relacionados ao Queernejo”, conta.

Quando questionado sobre um sonho a ser conquistado na carreira profissional, Gabeu não titubeia. “Tem muitos artistas que eu admiro com quem eu gostaria de colaborar, como a Gloria Groove, e até internacionais, meu sonho fazer algo com a Shania Twain e com o Orville Peck. Sonho muito com uma turnê do meu álbum, shows em Sescs, grandes festivais, seria incrível cantar na Virada Cultural, uma turnê internacional… São tantas coisas hahaha. Mas mais importante que tudo isso, gostaria de ver o Queernejo num cenário mais popular, tocando nas rádios, na boca do povo, na televisão, enfim…”, finaliza.

CONHECENDO GABEU

Cor: Preto

Livro: Quando O Sol Não Se Põe

Sentimento: Amor

Número: 19

Bebida: Suco

Hobby: Pintar

Peça de roupa: Chapéu

Lua: Cheia

Uma letra: G

Som preferido: Sino tibetano

Perfume: Fame

Um lugar: A casa da minha mãe

Cantor(a): Orville Peck

Comida: Feijão

Sonho: Muitos shows

Dia da semana: Sábado

Horário do dia: 22h

Música: Colcha de Retalhos

Filme: Kill Bill

Seriado: Sense8

Objeto: CD

Créditos: Gabriel Renné

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