Single shaming: a vergonha de estar solteira

Por Lu Magalhães

Com base em estatísticas, digressões históricas e sociológicas, experiências pessoais e entrevistas com especialistas e mulheres em idades entre trinta e sessenta anos, Gunda traz um texto provocativo, consistente e que lança luz a conceitos e preconceitos que permeiam o tecido social. Um deles é o single shaming, em livre tradução: vergonha de estar solteira. Ela cunhou esse termo por defender que é mais fácil combater os problemas quando temos um nome para eles; com a nomeação de um preconceito é possível começar um processo de desconstrução.

single shaming aborda, fundamentalmente, o que a mulher está perdendo. Supostamente, claro! É degradante porque as solteiras percebem – no olhar, no discurso e nas atitudes – a pena que a sociedade dedica a elas; esse sentimento acaba por contaminar o cotidiano delas, que passam a sentir pena de si mesmas. A frase padrão que ilustra esse comportamento é “você ainda vai encontrar o cara certo”. O mito do “cara certo” é brutal, porque passa a imagem que sem esse homem essa mulher é um ser incompleto.

O mais chocante é que obras adoradas por mulheres contribuem, cotidianamente, para disseminar esse conceito. O Diário de Bridget Jones e Sex and City são dois exemplos clássicos de como o single shaming se tornou socialmente aceitável, segundo Gunda Windmüller. “Por mais charmosa, ingênua e assoberbada que seja a heroína, seu final é inevitável. Seu final feliz. A pergunta era: Renée Zellweger ficará com Hugh Grant ou Colin Firth no final? Homem ou homem. Nada de Bridget”, afirma, no livro Mulher, solteira e feliz.

Em um trecho da obra, Gunda compara a imagem de homens solteiros versus mulheres solteiras. Em entrevista conduzida com Jean-Claude Kaufmann, o sociólogo afirma que “a solidão masculina pode ser complicada e difícil de suportar, mas é, essencialmente, um assunto privado. Aqui está a grande diferença para as mulheres, para quem viver sozinha é ao mesmo tempo um assunto privado e público, algo que se torna interesse de toda a sociedade”, revela. Uma mulher que foge disso é uma ameaça; um homem, ao contrário, é um modelo de conduta. Um solteirão cobiçado.

Em Mulher, Solteira e Feliz há uma crítica ao papel feminino na construção do single shaming – e o quanto as mulheres podem fazer para que haja uma mudança social que promova uma real transformação. “Se queremos mudar a narrativa sobre as mulheres, precisamos começar a falar de forma diferente; há uma demanda por sermos mais gentis conosco e com nossas irmãs. Por sermos mulheres, sempre pensamos que devemos ser perfeitas e, quando vemos outras de nós se comportando de maneira ‘não tão perfeitas’, somos rápidas em apontar o dedo, em culpá-las. Esse não é o caminho a seguir”, declara a autora.

Acredito, sinceramente, na importância da leitura no processo de reflexão – que dará início a um questionamento social essencial para construirmos um novo repertório sobre as mulheres. Por isso, convido as mulheres a lerem Mulher, solteira e feliz. Vamos ampliar o debate?

Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.

SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com

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