Dear Publicidade People: Precisamos falar sobre o racismo na propaganda
O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, só assinando uma lei em 1888, antes apenas de Zanzibar, em 1897, Etiópia em 1942 e Arábia Saudita em 1962. Mauritânia aboliu em 1981, mas apenas em 2007 tornou a escravidão crime. Como resultado deste histórico, carregamos após mais de 350 anos, um país (estrutural e fisicamente) construído com muito sangue, desigualdade e silenciamento. Mas como uma nação em que mais da metade da população (54%) é negra pode lidar com este passado, garantindo que o assunto evolua? Não há só uma resposta ao questionamento, mas com certeza uma delas é certeira: propondo o debate.
Dear Publicidade People de Vagner Soares
Sob o conceito “Ideias que abrem conversas”, que a Artplan carrega atualmente, a agência tem um projeto de pequenas palestras de 30 minutos toda sexta-feira, sempre às 11:30h. Não por acaso, o programa chamado “Onzeemeia” traz temas pertinentes para a publicidade com alguém que entenda e fale durante este tempo para o restante da agência. Vagner Soares, um dos colaboradores, há alguns meses perguntou a Zico Farina, diretor de criação, se poderia fazer uma das apresentações do projeto. É aqui que os assuntos se encontram: Vagner preparou há mais de dois meses uma palestra sobre o racismo na propaganda. Inicialmente nomeado de “Dear Artplan People”, o projeto foi tão feliz que, para nossa sorte, gerou buzz nas redes sociais.
Em seu facebook pessoal Vagner falou sobre o que o motivou e como foi o processo de produção. Sobre o tema, ele “sabia que pra falar de racismo na publicidade, seria necessário falar de racismo na sociedade, já que a publicidade é reflexo da sociedade”. O assunto abria margem para que ele falasse sobre racismo, colorismo, expressões, privilégio branco, “racismo reverso”, apropriação cultural, estereótipos e feminismo negro.
Mas dá para falar sobre feminismo negro sem ser mulher? Eis que outra peça importante adentra ao jogo: Letícia Guedes, outra funcionária da agência veio somar ao time. A apresentação que era “do Vagner”, passou a ser dos negros da agência, ela então foi nomeada “Dear Publicidade People”.
No dia da apresentação o que deveria durar 30 minutos acabou durando mais de uma hora. “Não dá pra colocar mais de 500 anos de racismo em meia hora”, relatou Vagner, que adicionou: “facilitou muita gente enxergar algumas coisas que elas nem faziam ideia que existiam e pessoas entenderem que acabavam tendo atitudes racistas mesmo sem saber, teve até gente chorando”.
Levado para as sedes do Rio e de Brasília o projeto também foi mostrado a um cliente. Depois de descoberto por pessoas de fora da agência foi um pulo para alcançar a internet. Vagner relatou o quanto é visível a mudança que isso está fazendo dentro e fora de casa, e bem…as redes sociais que o digam. Seu post (com a apresentação em slide disponível) alcançou 488 reações, foi compartilhado 126 vezes e recebeu 77 comentários – todos, sem exceção, positivos.
Você pode gostar
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
0 comentários