A política é um produto ruim? Como trabalhar o marketing no cenário atual?

Uma das máximas da indústria da publicidade ensinava que é bem mais difícil planejar, pensar e criar uma campanha quando um produto é ruim.

Os publicitários, profissionais de marketing e de relações públicas têm agora imensos desafios pela frente, a começar pela repercussão, hoje, imediata, sobretudo pela pujança das redes sociais. Também, no horizonte, surgem oportunidades singulares a esses profissionais.

Há um inconsciente coletivo no ar que propaga a chama de que, na política, todos são iguais. Se, na política, as suspeitas são colossais, o brasileiro assiste, atônito e impassível, a um Judiciário que deve inúmeras explicações à opinião pública. A principal dúvida: falta neutralidade/independência às decisões técnicas que emergem dos tribunais e do plenário do STF?

Nos anos 70, não havia o patrulhamento ideológico que se vê agora em relação ao refrigerante, ao cigarro, à bebida alcoólica, ao açúcar, à carne vermelha… O tal cigarrinho de chocolate era um sucesso e muitas crianças tomavam “refrescos coloridos” em embalagens plásticas que tinham o formato de armas.

Faltava a democracia, sobrava a repressão, os generais se sucediam no poder. Foi nos Estados Unidos – e não aqui – que se viu um presidente deixar o mandato por ter mentido e obstruído a Justiça.

Parece que somos parte de um mundo em que há patrulhamento e liberdade na mesma proporção, como se esses elementos duelassem continuamente. Tornamo-nos vigias de boas práticas que recomendamos aos outros – na terceira pessoa, é claro-, para que fiquemos fora delas, desobrigados (por nós mesmos) de cumprir o que prescrevemos… Éramos felizes e não sabíamos? Os dias eram assim?

A campanha eleitoral de 1989 talvez tenha sido o primeiro sopro para que a gente consiga olhar (já que compreender é bem difícil) para a divisão no Brasil de hoje. Mas parece um tanto quanto injusto atribuir toda essa penosa responsabilidade a ela.

Fernando Collor de Mello (eleito governador de Alagoas pelo PMDB, o mesmo PMDB que está aí no olho do furacão) surge pelo desconhecido e inexpressivo PRN prometendo o que a sigla assegurava: a reconstrução nacional. Collor falava de modernização, de colocar o País par e passo com o que havia de mais atual naquele mundo que se abria com a glasnost, a perestroika e a queda do Muro de Berlim. Collor queria dar um ippon na inflação, enfrentar a reserva de mercado que nos impingia atraso. Collor corria no entorno do Lago Paranoá, praticava judô, caratê, andava de Ferrari… Deu no que deu. Corrupção. Impeachment. Dor. Desilusão.

Vinte e cinco anos depois, e parece que existe alguma perversidade quando se diz que a história é cíclica, no duelo entre coxinhas e mortadelas, perdemos todos. Perdemos o humor, a capacidade de improviso, a versatilidade, perdemos as manhas e as artimanhas de tirar um coelho da cartola, uma carta da manga. Perdemos o bom senso. Perdemos a verve democrática de respeitar minimamente quem pensa diferente. Acentuamos a vitória de um olhar binário, de torcida organizada sobre os processos políticos que nos cercam. O vício e a virtude; o inferno são os outros.

Mais do que o marketing politico que humaniza, que faz o candidato subir num bode, comer buchada, abraçar criancinha na farmácia, no posto de saúde, na escola, na padaria, mais do que jogadas cênicas na cidade, do que transmissões ao vivo no Facebook, o desafio está posto: fazer com que o brasileiro acredite de novo. Acredite nele, na política, nos políticos, reveja a lógica de que é tudo igual. O desafio também está posto porque o ceticismo e a descrença preponderam, o que contraria a nossa lógica de povo.

Os profissionais de marketing terão de encontrar a fórmula “mágica”:  como humanizar em meio à desilusão, como dar esperança para quem a perdeu, como fazer sonhar quem se vê em meio a um maremoto ou a um pesadelo, como fazer o brasileiro voltar a ser brasileiro ? E qual é a responsabilidade de cada um de nós no processo que nos levou a essa sensação de que a nação está à deriva?

Nos versos de Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo./ A vida é assim: esquenta e esfria,/ aperta e daí afrouxa,/sossega e, depois, desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

Por Wagner Belmonte, jornalista e professor universitário

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