Cinema sem crise
No momento em que o país registra a queda do PIB (Produto Interno Bruto) pelo sexto trimestre consecutivo, o mercado cinematográfico comemora o crescimento de 12,1% de público neste primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram mais de 101,4 milhões de espectadores, ante a 90,5 milhões de janeiro a junho de 2015, de acordo com os dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
Tal tendência já vinha sendo notada desde o ano passado, quando foram quebrados os recordes de público e bilheteria dos cinco anos anteriores. A renda de R$ 2,35 bilhões significou um aumento de 20,1% em comparação com 2014. O público de 172,9 milhões de espectadores, por sua vez, foi 11,1% superior ao do ano da Copa.
Mas como explicar que, em meio a uma das mais graves crises político-econômicas do país, o setor de cinema foi capaz de resultados tão expressivos?
O fato é que a própria recessão pode ter ajudado a alimentar estes números. Com o encolhimento do crédito e as incertezas geradas pelo alto índice de desemprego, o brasileiro está sendo obrigado a adiar os grandes investimentos e se divertir com opções de lazer mais baratas.
E acompanhar os principais lançamentos nacionais e internacionais na telona sempre será uma alternativa natural de programa acessível para se fazer em família ou entre amigos.
Os números falam por si só. Dos 11 maiores públicos registrados em toda a história do cinema no País, quatro ocorreram entre 2015 e 2016. E das dez maiores bilheterias contabilizadas no Brasil desde 2004, oito foram conquistadas nos dois últimos anos.
Por outro lado, a crise econômica interferiu negativamente no crescimento do número de salas de exibição. No primeiro trimestre de 2016 foram abertas apenas 12 no país inteiro, num total de 3.017.
Isso porque a construção de novas salas no Brasil está diretamente atrelada aos shoppings centers, segmento que se viu obrigado a diminuir o ritmo de novos empreendimentos devido à perda de poder de consumo do brasileiro. Além disso, pelo fato de os equipamentos de projeção serem importados, a alta do dólar dificultou o investimento.
Como o país já dá sinais de que o período de recessão está próximo do fim, a tendência é que os shoppings voltem a expandir e, com isso, a abertura de novas salas possa novamente registrar taxas de crescimento significativas, sobretudo em áreas onde não existem muitos cinemas.
Paradoxalmente, nas regiões com grande quantidade de salas é possível que o público caia. Com o crédito mais acessível e sentindo-se seguro para investir, será hora de o brasileiro tirar seus grandes projetos da gaveta e, consequentemente, diminuir os gastos com cinema. Foi o que se viu em crises anteriores e dessa vez não deverá ser diferente.
Mas isso também será positivo. A retomada econômica é necessária para que o mercado cinematográfico possa crescer de maneira consistente. Afinal, não há como prosperar no longo prazo com o país mergulhado na crise.
Bia Schmidt é diretora do Espaço Itaú de Cinemas e Marcelo Lima é diretor da Expocine (feira do setor de cinema)
Por Bia Schmidt e Marcelo Lima
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