A necessidade de espaço

Muitos se sentem desconfortáveis com a ideia de o parceiro se divertir sozinho, mas ficar grudado o tempo todo não é o ideal

Um dos desafios dos relacionamentos amorosos e sexuais da atualidade é abrir espaço para que cada um do par tenha seus momentos de ficar só. Fazendo o quê? O que der vontade, claro. Mas sem o companheiro ou a companheira ao lado.

O problema é que muita gente não vê vantagem nisso. Pelo contrário: há um desconforto gigantesco diante da possibilidade de a outra pessoa se divertir sozinha. Ou com amigos. Ou com a família.

Em situações como essa, é comum passarem pela cabeça pensamentos como: “Será que ele (ou ela) vai me trair? Será que ele (ou ela) não gosta mais de mim? O que está faltando no nosso relacionamento? O que será que eu estou fazendo de errado para ele (ou ela) não me querer por perto? Será que nossa história está chegando ao fim?”

Essa preocupação desemboca em acordos do tipo “Se eu não for, você não vai também”. Mas será que isso é saudável? Ou estar junto a todo custo acaba sendo, na verdade, um dos primeiros passos para o distanciamento amoroso e sexual do casal?

Infelizmente, para muitas pessoas o que ocorre é a segunda opção. Quem não quer desgrudar nem um minuto do outro acaba justamente criando motivo para que isso aconteça. Por que? Entre outras coisas, pelo fato de o ser humano precisar de um espaço sozinho para poder relaxar, pensar na própria vida, fazer planos e se estruturar para seguir em frente. Sem isso, uma incômoda sensação de sufoco e de falta de liberdade começa a invadir o dia a dia. E a contaminar a relação a dois.

Em muitos casos, esse espaço sozinho de que estamos falando começa num encontro com amigos. Ou com parentes queridos. E é aí que o caldo entorna: “Por que você preferiu sair com eles do que comigo? O que é que vocês fizeram? Por que é que eu não podia estar junto?”

Cobranças e questionamentos como esses costumam ser o estopim para desentendimentos maiores, e bastante nocivos à vida a dois. Segurar a onda não é nada fácil, sabemos todos. Muitas vezes dá nó na garganta, uma angústia enorme e um medo crescente de perder o amor e a admiração da outra pessoa, algo que certamente faz muito mal.

Um jeito de começar a lidar com toda essa avalanche de sentimentos negativos é entender que a vida de cada um de nós tem múltiplas dimensões. A amorosa e sexual é uma delas, e merece sem dúvida uma grande atenção. Mas há ainda outros setores importantes, como o profissional, o familiar, o social e o pessoal. Conseguir se dedicar a tudo isso da forma mais equilibrada e tranquila possível é um dos segredos para uma vida mais prazerosa, tanto para homens como para mulheres.

O pique e a proximidade na cama também saem ganhando quando a pessoa está em paz com suas variadas dimensões. Sentir-se bem com a vida como um todo tem o poder de energizar, além de trazer colorido para o dia a dia e deixar cada um mais inteiro para saborear o amor e o prazer a dois.

Diante disso, talvez seja importante sentar para conversar e negociar esse espaço do qual estamos falando aqui, por mais difícil que seja encarar uma empreitada dessas. Um bate-papo franco e acolhedor é fundamental para que cada um coloque seus desejos e suas ideias, assim como seus temores e suas preocupações. É a partir daí que se consegue enxergar possibilidades e fazer acordos saudáveis para os dois.

Mas até onde ir? Como sempre falo por aqui, cada pessoa é única, e cada casal também é. Os limites a serem estipulados dependem, portanto, de cada dupla que se estabelece. Não há algo certo ou errado para todos os casais. Cada um é que terá de ver o que cabe, ou não, na sua vida a dois.

Fonte: COLUNA | LAURA MULLER | SEXO

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