Filme “Minha Avó era Palhaço!” será exibido em Salvador
Inédito na Bahia foca na primeira palhaça negra do Brasil e será exibido na Sala Walter da Silveira, 15.07. “Xamego” atuou no Guarani, circo que recebeu artistas como Luiz Gonzaga, Tonico e Tinoco e Silvio Santos
Dirigido por Ana Minehira e Mariana Gabriel, o documentário Minha Avó era Palhaço! tem esse nome porque Maria Eliza Alves dos Reis se apresentava como “Xamego”, palhaço homem, no início da década de 40, sendo a grande atração do Circo Guarani. Maria Eliza – avó de Mariana, uma das diretoras do filme -, foi a primeira palhaça negra do Brasil. A exibição acontece na sexta-feira, 15 de julho, às 19h na Sala Walter da Silveira.
Após o filme acontece um debate com a presença de Mariana Gabriel, a “neta” da protagonista, que dirigiu o filme com Ana Minehira. A estreia do filme em Salvador tem o apoio da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), por meio do Núcleo de Artes Circenses/Dirart e da Dimas.
Racismo, machismo e a longa luta de um palhaço pelo papel principal no espetáculo circense são os assuntos discutidos em Minha Avó era Palhaço!. A narrativa conta a trajetória do palhaço Xamego, personagem criado pela atriz negra Maria Eliza Alves dos Reis, nas décadas de 1940 a 60, e a sua longa história no Circo Guarany, circo de família tradicional – inaugurado no início do século XX, e que pertencia ao seu pai.
Com 52 minutos, o filme é o resultado visual de entrevistas, encontros, leituras, consultas virtuais e a organização de fotos antigas com curiosos trajes circenses dos séculos XIX e XX. Sem contar interessantes registros da palhaça-homem que animava festas da família até alguns anos antes de falecer, em 2007, aos 98 anos.
O documentário é resultado do prêmio Funarte Caixa Carequinha de fomento ao circo na categoria pesquisa de 2014, e está inscrito em festivais de cinema nacionais e internacionais. O filme já percorreu as cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, Sorocaba, Campinas, Santo André e Rio de Janeiro, chegando agora ao estado da Bahia.
O Circo Guarani
João Alves, pai de Maria Eliza, era negro livre, embora filho de escrava, e dono do Circo Guarani. Nasceu em 1873, dois anos após a promulgação da Lei do Ventre Livre, que libertava os bebês das escravas. Não se tem notícia ao certo de quando ele adquiriu o circo. O fato é que foi um grande empresário até seus 70 anos de idade. Maria Eliza presenciou na infância o auge do circo que viajava pelo Brasil inteiro.
Números de trapézio, palhaço, animais adestrados, mágicos e malabaristas eram algumas das atrações do circo. O “maior circo do Brasil”, como anunciavam os alto-falantes nas cidades por onde ele passava. No picadeiro se montavam peças teatrais, era a época do circo-teatro, com grandes encenações como Paixão de Cristo e Morro dos Ventos Uivantes. Em um período anterior à televisão, o circo era o grande divertimento das pessoas e concentrava o que hoje seriam shows de música, teatro e cinema.
No Circo Guarani se apresentavam famosas famílias circenses como os Temperani, dos grandes pilotos do Globo da Morte, e os Seyssel, dos palhaços Arrelia e Pimentinha. A grande atração do circo era Ondina, a Mulher Cobra, acrobata e mãe de Oscarito, que se tornaria, na década de 40, um dos maiores nomes do cinema ao lado de Grande Otelo.
Havia também um sanfoneiro que fazia muito sucesso com suas músicas, vestimentas e sandálias de couro: Luiz Gonzaga. Uma dupla caipira famosa cantava O Rio de Piracicaba, eram Tonico e Tinoco. Outra atração que animava o público era a Caravana do Peru que Fala, comandada pelo na época, jovem radialista Silvio Santos, trazendo os cômicos Ronald Golias, Manoel de Nóbrega e sua trupe.
A Primeira Palhaça Negra do Brasil
Maria Eliza Alves dos Reis enfrentou o racismo e o machismo de sua época. Nasceu na primeira década do século 20. Mãe de nove filhos, enfrentou a perda de sete deles ainda pequenos, mas teve força e alegria para criar os outros dois, um casal: Aristeu Alves dos Reis, que foi guitarrista do cantor Roberto Carlos por 40 anos, e Daise Alves dos Reis, jornalista e mãe de Mariana Gabriel, uma das diretoras do filme, que também interpreta uma palhaça chamada Birota.
No início da era do Rádio, em 1929, Maria Eliza e sua irmã Ifigênia, a Tita, tentaram a carreira de cantoras. Passaram um tempo no Rio de Janeiro investindo no sonho, e ficaram na casa do tio Benjamin de Oliveira, um dos maiores palhaços do Brasil – e o primeiro palhaço negro de que se tem notícia.
Serviço
Minha Avó era Palhaço
Onde: Sala Walter da Silveira/Dimas/Funceb
Quando: 15.07, 19h
Ingresso: Gratuito
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