A importância do debate sobre saúde mental
Psicólogo explica como a temática é vista pelos brasileiros
O cuidado com a saúde mental ainda é um assunto carregado de estigmas. A falta de discussão sobre essa temática durante décadas desenvolveu diversos tabus que por mais desconstruídos e desmitificados que estejam sendo, ainda continuam enraizados na sociedade. O número de brasileiros que se preocupam com a saúde mental tem quase triplicado nos últimos quatro anos segundo dados, de 2022, do Instituto Ipsos, especialista de pesquisa de mercado e opinião pública. Todavia, o Brasil ainda ocupa a primeira posição no índice de depressão em países da América Latina de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), além de ser o segundo maior das Américas, os dados também são de 2022.
O psicólogo e coordenador do curso de Psicologia da Faculdade UNINASSAU Petrolina, Misael Carlos, explicou que a pauta sobre saúde mental precisa ser ainda mais estendida porque a falta de discussão acerca do assunto distancia a população do cuidado com ela. O professor também forneceu orientações sobre alguns dos cuidados que as pessoas podem ter para buscá-la e preservá-la.
- A pessoas ainda têm dificuldades de discutir sobre saúde mental? Se sim, por quê?
Sim, e acredito que seja pela pouca visibilidade à temática e pela falta de uma cultura de prevenção no Brasil. Por causa da escassez de informações e de engajamentos com o assunto, de modo geral, as pessoas costumam confundir saúde mental – ou a falta dela – com ‘loucura’. Ainda existe a crença, entre os brasileiros, de que ir ao psicólogo e/ou psiquiatra é sinal de ‘desequilíbrio mental’ e/ou ‘fraqueza’, pois isso significa, em outras palavras, assumir-se vulnerável e ‘incapaz’. A ideia de precisar admitir que ‘não dá conta’ das demandas que lhes são atribuídas assusta as pessoas e faz com que o cuidado com o âmbito psicológico seja ignorado.
- Atualmente, quais os principais fatores que podem prejudicar a saúde mental de uma pessoa?
O primeiro deles é não haver entendimento de que saúde mental não é a ausência de doença ou patologia. Não é porque uma pessoa não aparenta estar doente, que ela está mentalmente saudável. E a falta dessa percepção faz com que, de maneira geral, as pessoas só busquem ajuda e cuidados psicológicos quando a situação está séria. Outro fator é a rotina estressante, com tantos prazos e demandas laborais, escolares e de relacionamentos que, muitas vezes, exigem mais tempo e atenção do que podemos oferecer no momento, causando, assim, um certo desgaste mental.
- Você acredita que a temática tem recebido a atenção necessária da mídia, no Brasil? E tem sido abordada de maneira adequada?
Houve um avanço em relação à frequência com a qual se tem discutido a saúde mental no país. Mas ainda se faz necessário destacar a importância de compreender que esse assunto não é para ser debatido em apenas um ou dois meses. Ele precisa de visibilidade durante o ano inteiro. Além disso, é crucial ter cuidado em relação à forma de promover esse debate, porque, às vezes – e infelizmente – o que atrai as pessoas ao assunto é o sensacionalismo gerado em cima do tema, e isso não é adequado de forma alguma. A maneira de propagar informações relacionadas à saúde mental sempre precisa passar por um crivo ético, pois o modo como conversamos sobre essa pauta pode tornar-se gatilho para quem já sofre com isso.
- Quais cuidados você recomendaria que as pessoas tomassem para preservar a saúde mental?
É necessário, antes de tudo, equilibrar o tempo despendido entre nossas obrigações – trabalho, escola etc. –, descanso e lazer. Às vezes, pela correria e demandas da nossa rotina, acabamos não conseguindo desfrutar de coisas que gostamos verdadeiramente de fazer como praticar um esporte, ir ao cinema, passar tempo com pessoas queridas. Estarmos conectados com aquilo que faz sentido para nós, ter tempo de qualidade, conosco e/ou com nossas relações afetivas, é essencial para mantermos uma harmonia e preservarmos nossa saúde mental. Paralelo a isso é interessante, também, fazer psicoterapia, até mesmo como uma forma de psicoeducação para prevenir futuros adoecimentos, além de aprender a lidar melhor com o mundo a nossa volta.