Qual o futuro do Facebook após escândalo que fez valor da companhia cair mais de US$ 58 bilhões em 7 dias
O Facebook perdeu, em uma semana, US$ 58 bilhões (R$ 192,51 bi). O valor de uma das maiores empresas do mundo despencou na bolsa de valores de tecnologia dos Estados Unidos desde que a rede social foi envolvida num escândalo sobre deslizes no controle da privacidade de seus usuários.
Desde sábado (17 de março), alguns dos principais jornais americanos e britânicos trazem reportagens sobre como a empresa de consultoria Cambridge Analytica teria usado, para fins de propaganda política, informações privadas de mais de 50 milhões de usuários do Facebook.
A revelação sacudiu a rede social, criticada por permitir que dados de usuários – de grande utilidade em estratégias de marketing eleitoral, por exemplo – fossem compartilhados com terceiros.
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, se desculpou publicamente, mas isso não conteve uma onda de venda de ações da empresa.
O valor da ação do Facebook caiu de R$ 176,80 para US$ 159,30 entre segunda-feira e sexta-feira da semana passada. Anunciantes também ameaçaram retirar a publicidade se a empresa não conseguir recuperar sua confiança junto a usuários e o mercado.
Ao mesmo tempo, começaram a pipocar movimentos nas redes sociais propondo que usuários encerrassem suas contas, como a hashtag #deletefacebook.
Previsões
Quando o Facebook abriu seu capital, em 2012, suas ações chegaram a US$ 38 e o valor da empresa, a US$ 104 bilhões.
Ao alcançar mais de dois bilhões de usuários e passar a dominar o mercado publicitário digital as ações dispararam – em fevereiro deste ano, estavam sendo negociadas a US$ 190.
Brian Wieser, analista da consultoria Pivotal Research, não vê um panorama positivo para o Facebook dado os escândalos recentes. “Para 2018, eu previa um preço de US$ 152 (para ações do Facebook), mas isso foi antes dos eventos da semana (passada)”, disse o especialista à BBC.
Para Wieser, a queda abrupta do preço das ações indica que os investidores estão preocupados com aumentos na regulação do Facebook e com uma debandada de usuários. Mas ele vê como baixo o risco de que anunciantes abandonem o Facebook. “Para onde mais eles iriam?”, questiona.
O analista sênior da Hargreaves Lansdown, Laith Khalaf, disse que a semana foi um “episódio de estragos” na história do Facebook.
“Um dos segredos do sucesso do Facebook tem sido que, quanto mais pessoas usam o Facebook, mais essencial ele se torna para os clientes. Infelizmente, para o Facebook, a mesma dinâmica se aplica à direção oposta e se ele perder uma grande quantidade de usuários.”
O que dizem os anunciantes
O diretor fundador da firma de publicidade M&C Saatchi, David Kershaw, assegurou que as acusações contra a rede social provocaram uma reação negativa nos que pagam para divulgar seus produtos na rede.
“Os clientes chegaram ao ponto, com toda razão, de dizer ‘já basta'”, avalia Kershaw.
Empresas como Mozilla e Commerzbank suspenderam na quarta-feira suas respectivas campanhas publicitárias no Facebook. Na sexta-feira, o conhecido empresário sul-africano-canadense-americano Elon Musk anunciou que as páginas do Facebook de seus negócios, Tesla e SpaceX, seriam eliminadas.
“Não se enganem. O Facebook é um meio incrível do ponto de vista do anunciante devido à precisão de sua segmentação – que vem dos dados (dos usuários). Mas eu acho que essas grandes empresas estão muito nervosas por estarem associadas a um meio que abusa das informações, particularmente em um contexto político”, disse Kershaw.
O especialista disse à BBC que qualquer eventual mudança na política de proteção de dados estará mais relacionada à ameaça de anunciantes de retirar investimentos em publicidade e menos às hashtags com apelos para boicotar ou excluir as contas, ainda que elas tenham se popularizado nos últimos dias.
Na sexta-feira, representantes da associação britânica de anunciantes (ISBA, na sigla em inglês) se reuniram com o Facebook e disseram ter sido convencidos de que a empresa está tomando medidas para “rapidamente esclarecer o público e os anunciantes”, incluindo auditorias de aplicativos e encontros presenciais com clientes comerciais do Reino Unido.
Analistas, contudo, avaliam que vai levar algum tempo até ficar claro se a insatisfação do mercado publicitário levará a uma significativa retirada de anunciantes ou se limitará a reclamações de um grupo pequeno de clientes preocupados.
Zuckerberg acalmou as pessoas?
O fundador do Facebook tentou tranquilizar os usuários dizendo que as “providências mais importantes para evitar que o que aconteceu se repita já foram tomadas há anos”.
Contudo, Eileen Burbidge, investidora no mercado de tecnologia, avalia que a empresa demorou demais para dar garantias a usuários e clientes.
“Levou cinco dias para que (Zuckerberg) fizesse um comunicado, que foi justo, sensível e compreensível. Mas demorou demais”, disse Burbidge.
“Acho que eles ficaram surdos por muitos dias”.
Para ela, o Facebook subestimou a repercussão entre usuários das revelações sobre uso de dados para fins políticos.
No centro do escândalo, a consultoria Cambridge Analytica está sendo investigada para saber se e como usou os dados pessoais de milhões de usuários para tentar influenciar, em 2016, o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos e também a votação no plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia.
Esses dados teriam sido coletados em 2014, com um aplicativo chamado thisisyourdigitallife (essa é sua vida digital, em português), que pagou a centenas de milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso acadêmico.
No comunicado online, Zuckerberg ofereceu um cronograma mostrando como o Facebook mudou os contratos de permissão de coleta e de uso de dados de usuários desde o teste do aplicativo.
Burbidge disse que pode haver a necessidade de uma nova regulamentação sobre uso de dados em campanha política, uma área “que realmente não acompanhou a mídia social”.
O que os usuários do Facebook vão fazer?
A especialista em tecnologia Kate Bevan disse que os eventos da semana passada deixaram muitos usuários em alerta, em especial sobre como jogos, testes e quiz coletam dados para fins indesejados.
“Essa semana foi como se as pessoas tivessem tido uma luz, e entendido que não se trata apenas de dar uma clicada no Facebook, trata-se de passar informação”, explica Bevan.
Esse sentimento foi compartilhado pela representante da Comissão de Direito do Consumidor e Igualdade de Gênero da União Europeia, Vera Jourova. Segundo ela, o caso envolvendo a Cambridge Analytica chama a atenção para a demanda por dados dos usuários do Facebook.
“O tigre saiu da jaula”, advertiu Jourova.
Fonte: MSN
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