Culpada, eu?

Nayara K. S. Coelho 

Uau! Fico absolutamente estupefata com todas as comemorações anuais dedicadas ao dia e/ou mês das mulheres! Sério mesmo!! Mas penso uma vez, reflito mil e agora preciso falar, ou melhor escrever.

Focando a realidade presente na esfera mundial, há de fato o que comemorar?

Pensemos…

Bem… a autora que vos escreve categoricamente diz: NÃO!!

Vou me limitar nesse pequeno artigo somente a uma das muitas violências às quais somos submetidas desde os primórdios da humanidade: a Cultura do Estupro.

Vc me pergunta: oooiii??? O que é isso? Isso existe? Como isso ocorre? Vai me dizer que além de cultuarem atrocidades da humanidade como o nazismo e terem a estúpida e distorcida ideia de adorarem o demônio como se fôsse o próprio Criador ainda se venera uma violência contra a mulher? Para a última pergunta te respondo de imediato, caro leitor não é a veneração ao ato e nem o aprimoramento das técnicas de sexo forçado transformadas em arte, mas sim a jogada imunda e machista que certos homens têm de propagar a ideia de que as mulheres que sofrem abusos sexuais na verdade ” pedem , merecem e/ou são culpadas por esse abuso.”

Uma definição mais completa dada pela ONU ( Organização das Nações Unidas) diz:

“A cultura do estupro é uma consequência da naturalização de atos e comportamentos machistas, sexistas e misóginos, que estimulam agressões sexuais e outras formas de violência contra as mulheres. Esses comportamentos podem ser manifestados de diversas formas, incluindo cantadas de rua, piadas sexistas, ameaças, assédio moral ou sexual, estupro e feminicídio. Na cultura do estupro, as mulheres vivem sob constante ameaça.”

Focando no Brasil, nos últimos 5 anos casos dessa natureza têm sido amplamente divulgados pela mídia. Há comoção? Sim, mas temporária. Existe coibição desses crimes? Com certeza não de maneira eficaz.

Senhoras e senhores vos apresento agora os dados irrefutáveis da esfera nacional:

* A cada 11 minutos no Brasil, uma mulher é estuprada segundo o 9¤ Anuário do Fórum de Segurança Pública ;

*Dados da Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180 (serviço da Secretaria de Políticas para Mulheres), registrou em 2015 cerca de 10 casos de violência sexual por dia, com um aumento de 165,27% no número de estupros em relação ao levantamento anterior;

*Mapa da Violência de 2015 mostram que entre 2003 e 2013, o número de vítimas de homicídio do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762; um aumento de 21% na década.

Ainda há muito mais a ser descrito, porém o estupro é o crime que permeia o silêncio por conta da vítima se sentir ” suja, violada, desolada” e acreditar que de fato foi culpada. Até 2002, ou seja, 15 anos atrás ainda se considerava plausível a lei que dizia que se o estuprador se casasse com a vítima caso houvesse queixa ela poderia ser retirada, o inquérito arquivado e/ou o mesmo absolvido do processo. Que romântico, não? ♥♥ para ele!

Ainda bem que essa insanidade foi abolida! Porém infelizmente ainda devem existir meios para se garantir a impunidade dessa imundície! C’est la vie ma chérie? Non, monsieur!

Conformismo e silêncio nunca solucionaram ABSOLUTAMENTE NADA!

E isto é ” privilégio” do Brasil? Não! Ano passado entrei num debate acalorado numa rede social onde se comentava o fato de que na Turquia poderia ser aprovada uma lei que beneficiaria estupradores, vou me ater aos detalhes pela iminente ânsia de vômito presente em meu corpo ao recordar. Evidente, que homens presentes vieram logo culpar ao Islã, à política presente e até mesmo ofender a cultura árabe, tudo simplesmente para se desviar do fato de que a crise não é política e tampouco a lei em questão se baseava em fundo religioso( qual religião prega que o estupro é bom, legal e normal? Estou por conhecer!) mas sim uma falha abissal de caráter presente nos homens. A crise é de consciência, de ética não religiosa. Ora, façam-me o favor!

Então, antes de ensinarem suas filhas a não serem estupradas, ensinem seus filhos a não estuprarem.

Imagem relacionada

Lembre-se do pensamento de Simone de Beauvoir:” Não se nasce mulher, torna-se mulher.” 

Assim assina o post a Moça Bem-Comportada.

Nayara K. S. Coelho, Graduando em Matemática, Centro Universitário Internacional UNINTER. Uma moça das Exatas flertando com as Humanas.

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