O jogo no Brasil e o sofá do corno

O jogo de azar já é legal no Brasil. Você por acaso acha que seis bolinhas caindo na mão de uma agente da caixa econômica lhe dão chances reais de uma vitória matemática? Ou ainda, baseada na sua habilidade? Ora, grow up.

Todos os recursos gerados pelas inúmeras loterias estaduais e federais engordam o caixa do governo e são, em sua maioria, gerados pelas famílias de baixa renda, que buscam o afamado sonho de ganhar na Mega-Sena. São as velhinhas e velhinhos que você acha que perderão suas economias nas “slot machines“, que sustentam com seus talões semanais a grana discretamente administrada pela Caixa.

Não me consta, nem eu nunca ouvi falar, que estas pessoas estão falidas ou trocando seus tostões de aposentadoria pelo sonho de enriquecer, seja através do sistema público de jogos de azar ou o bingo da bicharada. Também não me consta, nem nunca ouvi falar que os cassinos dos cruzeiros, quase encalhando com o peso de tantos brasileiros, estão falindo as famílias em seus passeios marítimos. Por favor não sejamos, apenas desta vez, hipócritas. Há muita coisa em jogo.

O fato pouco discutido é que a lei em tramitação (e que rogamos, deve ser aprovada em breve) e seu conteúdo obrigando as operações de jogo em resorts integrados, criará um número imenso de novos empregos e um círculo virtuoso de turismo nunca visto no Brasil. Tudo isso devido à mesas de roleta? Óbvio que não. Las Vegas é o que é porque se reinventou nos últimos anos, abraçando os segmentos de congressos e convenções, lazer familiar é grande show, inclusive sendo lar de vários shows imperdíveis do Cirque de Soleil.

Visitas a uma das maravilhas do mundo (o grande cânion) revelam imensos centros de compras com desconto e todos, eu disse todos, os grandes restaurantes do mundo. Agora imagine uma bela estrutura hoteleira, nas mais belas praias ou nas mais vibrantes metrópoles do país, com uma cultura única, restaurantes de ponta, serviço internacional, investimento novo e sim, por que não dizer, uma mesa de roleta?

Lembre-se também dos empregos para projetar e construir 100.000 metros quadrados de complexo integrado de lazer, comprar televisores, camas, mesa e cadeiras, fazer instalações e etc.  Depois pense nos mais 800 empregados em cada resort, treinados e fazendo parte de uma nova geração de brasileiros que não só operam um resort integrado em um lugar mágico, como passarão a fazer parte de uma nova classe de consumo – seja no Ceará, na Bahia ou em São Paulo.

Uma piada velha conta que um certo marido, ao descobrir que sua amada esposa o traíra no sofá, vendeu o sofá na esperança que a traição cessasse. A discussão sobre a segurança da circulação de fundos e a correta arrecadação de impostos deve passar pela capacidade da Receita Federal de escrutinar qualquer, digo qualquer atividade empresarial. Usar a lavagem de dinheiro para argumentar contra a legalização de resorts integrados no Brasil, é achar que sumir com a vítima pode impedir um crime. Impedir a lavagem de dinheiro deve ser uma das razões de existir dos órgãos de fiscalização neste novo Brasil que se avizinha, nos anos pós lava a jato. Impedir o desenvolvimento do país e, para todos os efeitos, todas as oportunidades de desenvolvimento que nos sejam oferecidas devido à nossa incapacidade de gerir a fiscalização pública, deve ser visto como um erro grave de julgamento.

Tal qual o de vender aquele sofá.

*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.

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