Novo acordo ortográfico será cobrado no Enem

O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa será cobrado, pela primeira vez, no Enem deste ano

O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi o primeiro assunto que o professor da disciplina ensinou, este ano, à turma de Manuela Marques, 17 anos, aluna do Colégio Vitória Régia. “Mas tenho que ficar sempre relembrando. E tem que se acostumar, né? O que mais tenho dificuldade é com o hífen, por isso estudo comparando. Acho que fica mais fácil”, conta a adolescente, que sonha cursar Psicologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Tanta preocupação com o tal acordo tem um motivo: essa é a primeira vez que as novas normas ortográficas serão cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece nos dias 5 e 6 de novembro.

Assinado em 1990 pelos países membros da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) para padronizar as regras de escrita do idioma, o tratado foi ratificado pelo Brasil em 2008, com implementação sem obrigatoriedade em 2009. Deveria estar valendo oficialmente desde 2013, mas, para facilitar a adaptação das pessoas, o governo adiou as mudanças para 1º de janeiro de 2016.

Agora, não dá mais para adiar. São, basicamente, mudanças em seis pontos: no alfabeto, acentos agudos, acentos diferenciais, circunflexos, hifenização e no trema (veja ao lado as principais alterações).

E, para aprender da melhor forma, o primeiro passo deve ser desmistificar a ideia de que o acordo piorou a vida dos estudantes, de acordo com a professora Paula Barbosa, coordenadora do Departamento de Português do Sartre COC e professora do curso Múltipla.

Assimilação
“Ortografia nunca foi um assunto fácil. O acordo não torna nem mais fácil, nem mais difícil, porque escrever certo sempre foi uma dificuldade do aluno brasileiro. Ele (o acordo) vem reafirmar uma realidade que já existe com determinadas palavras, mas que agora pode deixar de existir e que tem que ser trabalhada”, defende a professora. “Antes do acordo, as pessoas já não sabiam hifenizar, por exemplo. Talvez com o novo acordo, exista uma chance dessa meninada assimilar as palavras que são ou não hifenizadas”, complementa.

A maioria dos estudantes, lembra ela, até sabe que “ideia” não tem mais acento, mas não compreende o motivo. Assim, não consegue aplicar nos outros casos. “Ele aprendeu a palavra, não a regra. Assimilou pelo universo da leitura. E isso me leva a crer que nossos alunos não estão priorizando as regras, mas o que dá pelo cotidiano”, analisa Paula.

A professora de Redação Lídia Azevedo, do Colégio Estadual José de Freitas Mascarenhas, concorda. “Acho que os alunos ainda não internalizaram a questão da mudança. São regras que já estavam consagradas, mas, mesmo com esse tempo todo que tivemos para fazer esses trabalhos com eles, muitos ainda não assimilaram. E são regras, então, ou você aprende, ou você aprende”, conclui.

Professores sugerem como mudanças podem cair no exame
É improvável que o Enem venha com uma questão específica utilizando o novo acordo ortográfico, como acontece nos concursos públicos — improvável, não impossível —, na opinião do professor de Gramática Luís Alberto Ferreira, dos cursos Análise, Universitário, Opção e Pré-Villas e no Colégio Isba.

“Pode vir de maneira indireta, pedindo para o aluno identificar uma frase que se enquadra à ortografia vigente da língua. Isso vai atrapalhar aquele candidato que não conhece as regras”, analisa.

Outra possibilidade, para a professora Paula Barbosa, é que o acordo seja abordado através de uma notícia sobre a unificação da língua. “Como o Enem é produzido pelo MEC (Ministério da Educação), às vezes isso pode aparecer para mostrar como interfere na cultura de cada local ou uma questão teórica do próprio acordo enquanto documento”, cita ela.

Mas a prova que não vai dar para fugir é a de Redação. Nesse caso, são exigidas cinco competências do candidato — cada uma valendo 200 pontos. Uma delas é, justamente, o domínio da norma culta da língua escrita.

“Dentro desse enfoque, toda e qualquer regra que não cumpra isso vai ser considerada erro gramatical. O aluno tem que entender que 200 pontos numa prova é muito”, avisa  a professora Paula.

Uma boa forma de aprender as regras é estudar uma de cada vez. “O aluno pode dividir esse conjunto de regras em doses menores, porque, se tentar de uma só vez, não vai assimilar”, indica a professora. Já o professor Luís Alberto diz que as comparações também são uma boa alternativa. “A pessoa pode tentar entender a mudança a partir do próprio termo, fazendo a comparação e lendo textos atualizados”, aponta.

Informações básicas

O que é o Acordo Ortográfico? 
Foi um “combinado” entre os países membros da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) para padronizar as regras ortográficas do idioma. O tratado foi assinado em 1990 e ratificado pelo Brasil em 2009, com implementação sem obrigatoriedade em 2009. Inicialmente, as regras valeriam oficialmente em 2013, mas o governo adiou as mudanças para o dia 1º de janeiro de 2016.

Com qual finalidade?
A ideia era que, a partir da padronização do português, a integração comercial e o intercâmbio cultural e científico entre os países ficassem mais fáceis. A própria língua portuguesa deveria ser, assim, mais divulgada

Quem participa?
Por enquanto, as mudanças estão valendo no Brasil, Portugal e Cabo Verde. Outros países falantes da língua portuguesa, como Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste ainda não usam, oficialmente, as novas normas

Na prática, o que acontece?
Menos de 1% das palavras do português no Brasil foram alteradas. Em Portugal, a mudança foi maior: entre 1,3% e 1,5%.

Principais mudanças promovidas pelo novo acordo ortográfico

ALFABETO
COMO ERA O alfabeto oficial tinha 23 letras – não contávamos o k, w e o y
COMO É HOJE  Agora, com a incorporação do k, do w e do y, temos 26 letras

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não existe mais nas palavras terminadas em “oo”. Os verbos ler, crer, ver (e derivados), quando conjugados na terceira pessoa do plural, também perdem o acento.

COMO ERA

COMO É AGORA

crêem

creem

dêem

deem

descrêem

descreem

enjôo

enjoo

lêem

leem

vêem

veem

vôo

voo

Atenção: não confunda com a acentuação dos verbos ter, vir e derivados. No plural, o acento circunflexo é mantido (eles têm).

ACENTO AGUDO
Foi eliminado nos seguintes casos:

1. Nos ditongos (encontro de duas vogais na mesma sílaba) abertos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas (cuja sílaba pronunciada com mais intensidade é a penúltima).

COMO ERA

COMO É AGORA

assembléia

assembleia

colméia

colmeia

heróico

heroico

idéia

ideia

jóia

joia

jibóia

jiboia

Atenção: isso não acontece nas palavras oxítonas (quando a sílaba pronunciada com mais intensidade é a última), nem nos monossílabos tônicos que terminam em ‘éi’, ‘éu’ e ‘ói’. Ou seja, palavras como ‘anéis’, ‘céu’, ‘chapéu(s)’, ‘herói’ e ‘réis’ continuam com seus devidos acentos.2. Em palavras paroxítonas com vogais tônicas i e u, quando precedidas de ditongo decrescente.

COMO ERA

COMO É AGORA

baiúca

baiuca

feiúra

feiura

ACENTO DIFERENCIAL

Os acentos que eram utilizados para facilitar a identificação de palavras pronunciadas da mesma maneira deixaram de existir.

COMO ERA

COMO É AGORA

pára (verbo) e para (preposição)

para (verbo) e para (preposição)

pêlo (substantivo) e pelo (preposição + “o”)

pelo e pelo

Há duas exceções, que continuam com os acentos diferenciais:
– Pôr (verbo) ainda deve ser acentuado, ao contrário da proposição por
– Pôde (verbo conjugado no passado) também mantém o acento, para não ser confundido com pode (verbo no presente).

HÍFEN
Deixou de ser usado nos seguintes casos:

1. Quando a segunda parte da palavra começa com ‘s’ ou ‘r’

COMO ERA

COMO É AGORA

anti-religioso

antirreligioso

contra-regra

contrarregra

contra-senha

contrassenha

A exceção é quando a primeira palavra termina em r, como em super-residente.2. Quando a primeira parte da palavra termina com vogal e a segunda parte da palavra começa com vogal.

auto-aprendizagem | autoaprendizagem
auto-estrada | autoestrada

TREMA
Os “dois pontinhos” que ficavam em cima da vogal u deixaram de existir. Só continuam em nomes próprios. Mas, atenção: a mudança não influenciou a pronúncia, que continua a mesma.

COMO ERA

COMO É AGORA

agüentar

aguentar

cinqüenta

cinquenta

eloqüente

eloquente

freqüente

frequente

lingüiça

linguiça

sagüi

sagui

seqüestro

sequestro

tranqüilo

tranquilo

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